segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

A Ilha do Sol

A ILHA DO SOL
(Fotos: da web)
Próxima da maior e mais conhecida Ilha de Paquetá, Tapuama de Dentro tornou-se famosa nos anos cinquenta pelo clube de naturismo nela implantado pela artista capixaba Luz del Fuego, que fazia sucesso dançando sensualmente com uma serpente enrolada em seu corpo nu. Rebatizada informalmente de Ilha do Sol pela vedete, o local atraía praticantes do nudismo e personalidades diversas que se submetiam alegremente à regra de despir-se para poder nela desembarcar.
Estávamos no período de transição do Colégio Naval para a Escola Naval, com alunos aquartelados provisoriamente no Rio e a fama da ilhota e de sua proprietária levou-nos, a mim e a mais dois colegas, a tentar velejar até lá num fim de semana para fazer o que eufemisticamente chamamos de levantamento do local, utilizando na aventura um dos veleiros classe Guanabara da frota da Escola.
Largamos numa belíssima manhã ensolarada, com muito calor e atmosfera abafada, para uma singradura que demandaria horas até aportarmos na ilha, na verdade um aglomerado de rochas lisas que visitávamos pela primeira vez. Soprava uma leve brisa pela popa, que empurrava o barco com preguiça no rumo certo e sem necessidade de manobras, mas aos poucos o tempo foi mudando, prenunciando a chegada de um temporal de verão. Como estávamos perto do nosso destino e tínhamos a opção de um porto seguro no vizinho Iate Clube de Paquetá, decidimos manter o rumo e o vento forte rapidamente nos levou à Ilha do Sol.
Luz del Fuego morava no local em companhia de um homem de meia idade conhecido como Edgar, um misto de caseiro, cozinheiro e segurança e nossa primeira visão ao circundar a ilha com dificuldade foi a desse cidadão encarapitado no topo de uma pedra, inteiramente nu e com uma espingarda nas mãos, a esbravejar que nos afastássemos. Enquanto discutíamos, o tempo virou de vez e tratamos de fugir da ilha no procedimento padrão para essas situações, mas a chuva forte que caiu de repente encharcou as velas, inviabilizando a manobra. Impotentes e com o barco praticamente à deriva, baixamos as âncoras e aguardamos a chuva passar, indiferentes aos impropérios do rapaz.
Já escurecia quando o tempo limpou e fomos avistados por uma lancha da linha Praça XV - Paquetá que nos safou das pedras e deu reboque até o Iate Clube, onde passamos a noite. Na demorada e cansativa viagem de volta com vento de proa e inúmeros bordejos, comentamos os acontecimentos e rimos do insucesso da expedição, pois o sonho de ver a bailarina desnuda dançando com a cobra transformou-se no pesadelo de confrontar o jagunço pelado sacudindo o pau de fogo...
Alguns anos após nossa aventura criminosos atraíram o casal para uma emboscada e trucidaram a dupla, numa ação de vingança seguida de roubo. O Sol continua a aquecer a ilha, mas sua Luz apagou-se para sempre.


 
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Um comentário:

Fluiz disse...

Olá amigo.
Mt bom ler suas revivências. Minha esposa conhece o filme, mas não sabia que era na Ilha de Paquetá. De lá, nenhuma lembrança tenho, de quando fui quando muito pequeno. Agora, ao retornar qqr dia desses, lembrarei dessa história.