domingo, 7 de janeiro de 2018

Atravessando a rua

Uma atriz negra e linda, casada com um ator negro e feio, suscitou recentemente o surgimento de mais uma discussão sobre preconceito racial ao afirmar em palestra que temia ver pessoas atravessando a rua para não cruzar na mesma calçada com seu filho, certamente negro e amorável, devido à cor de sua pele. Chocante, mas compreensível, e a questão reavivou momento impactante de minha vida, envolvendo crianças negras.
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Caminhava distraidamente com minha mulher pela Avenida Nossa Senhora de Copacabana, quando a poucos metros da portaria do prédio fomos subitamente cercados e atropelados por um grupo agressivo de uns cinco menores aparentando menos de doze anos, todos afro-descendentes, atraídos por um cordão dourado usado por ela. Em questão de segundos arrancaram o cordão escoriando seu pescoço e me derrubaram, causando um corte no joelho que precisou ser suturado. Mesmo sangrando, corri atrás deles que acabaram detidos mais adiante por uma turma conhecida nossa que voltava da praia, e entregues à polícia. Recuperamos o cordão, mas devido ao corte, fui levado ao hospital e de lá para a delegacia, onde logo ao entrar vi os meninos sentados enfileirados no chão, num canto da dependência, conversando desconstraidos e nos encarando desafiadoramente. Incomodado com tamanha exposição, não quis dar queixa e logo fomos embora, mas na saída um policial discretamente alertou: - "é bom tomar cuidado nos próximos dias, eles logo estarão soltos e agora sabem onde o senhor mora"...
Desde então, mudo de calçada ou entro numa loja quando percebo um grupo desses caminhando na minha direção; não, não é preconceito, querida, apenas precaução...

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