segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

Plus que ça change...

Nasci no remoto 1934 numa tradicional rua da Tijuca, duas semanas depois do Carnaval, quando ainda ecoavam nas rádios as marchinhas que brilharam no então chamado tríduo momesco, com destaque para "Linda Morena", de Lamartine Babo, que respondia a "Linda Lourinha", sucesso de Braguinha no ano anterior, e a inspirada "Cidade Maravilhosa", de André Filho, que acabou hino oficial da Cidade do Rio de Janeiro. Sendo que as duas primeiras, por falaciosas artes e idiossincrasias do politicamente correto estão sumidas dos registros e das ondas sonoras. Foi também o ano do primeiro dissenso carnavalesco e dos surtos de egos em flor quando a Mangueira, questionada campeã do desfile oficial patrocinado pelo jornal O País no Campo de Santana, recusou-se a participar do desfile alternativo organizado pelo jornal A Hora no Estádio Brasil, onde terminou vencedora por aclamação popular a escola Recreio de Ramos, que já tinha cacife mas ainda não tinha cacique.
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Na seara política, o destaque foi a promulgação da pouco conhecida e efêmera Constituição Federal de 1934, promulgada em 16 de julho pela Assembleia Nacional Constituinte, redigida "para organizar um regime democrático, que assegure à Nação, a unidade, a liberdade, a justiça e o bem-estar social e econômico", segundo o próprio preâmbulo. Consequência direta da Revolução Constitucionalista de 1932, que levou Getúlio Vargas ao poder, durou pouco: em 1937, o mandatário outorgou uma nova Carta que transformou o presidente em ditador e o Estado democrático em autoritário. Como se sabe, o mau exemplo frutificou.
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Desde então nada realmente mudou, o Carnaval continua suscetível aos humores e valores políticos e outros, e a política permanece sendo um carnaval de intrigas e dissensos. Cansado dessa mesmice, dos memes e dos mimimis, rasguei a minha fantasia, "dei gargalhada com tristeza no olhar" (*) e resolvi pedir música - um tango argentino!
(*) Rasguei a minha fantasia, Lamartine Babo
 



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