Na história clássica que gerou um filme, uma órfã de 10 anos vai viver com um tio viúvo em um castelo na Inglaterra. Lá encontra um pequeno lorde, seu primo recluso, doente e isolado em um dos quartos, conhece outro rapaz, filho de uma aldeã, e os três descobrem um incrível jardim abandonado, que decidem revitalizar. A amizade entre as crianças e a interação delas com a natureza operam uma surpreendente transformação no jardim e em todos da casa. O livro é lindo e o filme sublima sua mensagem, a de que um jardim, mesmo abandonado, tem o dom mágico de distribuir amor e alegria.
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Depois de alguns anos na árida Brasília, me instalei na frenética Copacabana de muito mar e areia e poucas plantas, o avesso de um passado que até então incluiu casas com jardim e quintal em bairros mais comportados. A muralha de concreto dos prédios colados da Avenida Atlântica, seccionada apenas pela Praça do Lido, separa o azul do mar do verde da pouca mata ainda restante nos fundos, mas não os interliga. O urbanista até foi sensível e salpicou algumas árvores aqui e ali no calçadão, tentando amenizar o deserto vertical, mas foi só. Com o advento da pandemia, ficou progressivamente mais angustiante para os confinados a carência do verde alternativo das plantas e das cores variadas das flores, e cansativo o neutro das areias, lindo de longe quando tingido pelo azul do mar, mas escaldante e extenuante de perto. O jardim de nossa história é uma metáfora sobre limites e superação, sobre carências e reclusão, e impacta de forma decisiva o destino dos personagens. Assim como o meu jardim secreto.
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