O supremo mandatário da vez chamava-se Getúlio Vargas e havia chegado lá através de um golpe; nenhuma novidade, exceto que nos reencontraríamos mais tarde a bordo de outra ruptura institucional e depois mais outra, desta feita com contornos trágicos. O mundo enfrentava uma guerra que apesar de total ainda não havia nos atingido diretamente, mas as doenças infanto-juvenis ainda apresentavam seus cartões de visita em uma triste realidade: não existiam vacinas nem antibióticos para prevenção ou cura e as infecções faziam a festa macabra.
Convivíamos com surtos de sarampo, catapora, caxumba, rubéola, bronquite, pneumonia etc. e horror dos horrores! a poliomielite, a temidada paralisia infantil - correndo por fora a praga dos piolhos, intermitente e insidiosa nas escolas em geral. E na falta de vacinas se tentava, como agora, prevenir os surtos com o isolamento social. Também não funcionou, peguei as mais comuns - todos pegaram - e sofri com os bichinhos capilares. Discutiu-se a tal imunidade de rebanho, mas acho que acabei desenvolvendo a hoje tão falada imunidade plasmática, já que nunca mais contraí doença infecciosa. E a casa do Grajú também sobreviveu a tudo isso, embora tenha amarelado...
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Segundo Lavoisier, na natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma Ou se copia, na versão levadinha. A última novidade científica é a imunidade cruzada, que consiste na capacidade de alguns dos linfócitos envolvidos numa resposta adaptativa no passado em reconhecer sequências de um vírus, bactéria ou agente infeccioso e ser capaz de identificá-las no futuro em outro agente infeccioso. Trocando em miúdos e simplificando, aventa-se que quem sobreviveu ao sarampo, por exemplo, pode ter adquirido uma imunidade cruzada capaz de replicar uma resposta positiva contra o corona virus atual, já que segundo o estudo, eles são vários mas pertencem a uma mesma família. Será?
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