segunda-feira, 16 de novembro de 2020

A FAMÍLIA PAULA FREITAS

 

 

ORIGENS E LEGADOS 



A família Paula Freitas é originária da Ilha de São Jorge, arquipélago dos Açores, um pedacinho de Portugal perdido no oceano Atlântico. Dali emigrou com seus pais e desembarcou no Rio de Janeiro em 1830, com apenas onze anos de idade, o jovem Antonio Paula Freitas que viria a ser o patriarca do grupo familiar brasileiro. De seu filho mais novo, Alfredo, descendem aqueles que em 1930 optaram pelo sobrenome Paulafreitas.            A divulgação pública dessas lembranças é uma homenagem especial à memória do educador Alfredo de Paula Freitas e também uma comprovação de que as árvores que plantou floresceram no seu devido tempo.

 

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Antonio de Paula Freitas nasceu na Ilha de São Jorge, uma das nove ilhas do Arquipélago dos Açores (Portugal), no dia 11 de janeiro de 1819, desembarcou no Rio de Janeiro em 11 de novembro de 1830, com seus pais, casou-se em 1842 com Maria da Glória da Conceição Freitas e faleceu no dia 30 de novembro de 1855, com apenas 36 anos de idade, deixando oito filhos.  Dois deles, Antonio e Alfredo, o primogênito e o caçula, ambos engenheiros e professores foram profissionais destacados nas respectivas áreas de atuação e personalidades marcantes na sociedade carioca entre o final do reinado de Dom Pedro II e os primeiros anos da República, e deixaram um belo legado de realizações à cidade do Rio de Janeiro e aos seus descendentes. 

 

Alfredo de Paula Freitas, nasceu em 8 de outubro de 1855, no Rio de Janeiro, e faleceu em 30 de maio de 1931, aos 75 anos de idade.  Não chegou a conviver com o pai, falecido um mês após seu nascimento, e casou-se em 12 de outubro de 1878 com Maria Emília Pinto Guedes, com quem  teve dez filhos. Do terceiro filho,  batizado Júlio César, descendem os familiares que optaram pelo sobrenome unificado Paulafreitas

 

 

  


Aos 16 anos Alfredo ingressou na antiga Escola Central, depois Escola Politécnica, no Largo de São Francisco - atual Faculdade de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro - onde graduou-se como Bacharel em Ciências Físicas e Matemáticas, em 1877, e formou-se Engenheiro Civil em 1878, aos 23 anos de idade. Trabalhou um ano na Estrada de Ferro Pirapetinga, quando casou-se e optou definitivamente pelo magistério, sua verdadeira e apaixonada vocação, já então como professor da mesma Escola Politécnica onde se graduara apenas dois anos antes. Em 1885 f foi nomeado pelo governo imperial delegado  da Inspetoria Geral de Instrução Primária e Secundária, cargo que exerceu pro bono por cinco anos. Em 1888, aos 33 anos de idade,  foi classificado em 1° lugar em concurso para professor catedrático da Escola Politécnica, onde lecionou por 34 anos.  

 

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A família de Alfredo de Paula Freitas em 1915

 

O COLÉGIO PAULA FREITAS

 

No dia 3 de outubro de 1892 fundou o Colégio Paula Freitas, que em 1900 teve reconhecida a excelência do seu ensino ao ser equiparado pelo já então governo republicano ao Ginásio Nacional, primeiro nome do hoje conhecido Colégio Pedro II. Isso significava que os alunos aprovados em exames específicos prestados perante Juntas Examinadoras fiscalizadas por representante do Governo, tinham acesso assegurado às Escolas Superiores (Faculdades) e ao curso de Bacharelado oferecido pelo próprio Colégio.  Seis anos depois, a primeira turma de bacharéis pelo Colégio Paula Freitas colou grau e recebeu seus diplomas na presença do então Presidente da República, Rodrigues Alves, o que se repetiu posteriormente, quando o ilustre visitante foi o então Presidente Nilo Peçanha.

Instalado em  prédio tradicional que pertenceu ao Barão do Rosário, uma ampla área na rua Haddock Lobo fronteira à rua Afonso Pena, na Tijuca, onde hoje existe a rua Maestro Heitor Villa Lobos,  o Colégio Paula Freitas foi modelo de eficiência, modernidade e cidadania,  conciliando o trato intelectual com o vigor físico  e os deveres cívicos, ao estimular atividades literárias, a ginástica e a manutenção de um Batalhão Escolar em parceria com o Exército Brasileiro.

 

 


O Colégio Paula Freitas


 
Além  de bem equipados laboratórios de física e química, biblioteca, salas de desenho e datilografia, e de um Grêmio Literário que coordenava a publicação de vários jornais internos pelos alunos,  o Colégio possuía um pátio coberto para ginástica e quadras esportivas.  

 


Laboratório de Física

Laboratório de Química


 
                                                              
                                   

 

                                                                         Pátio coberto para ginástica

 

 O Colégio também mantinha  um núcleo de escoteiros e foi pioneiro na organização de um Batalhão Escolar e de uma Linha de Tiro, precursora dos Tiros de Guerra que formavam, na época,  os reservistas do Exército Brasileiro. Graças ao bom relacionamento e parceria  com as Forças Armadas, o Batalhão Escolar era comandado por um oficial do Exército e o Colégio tinha a guarda do seu armamento. Com a morte do seu fundador, em 1931, a instituição saiu do controle da família e foi extinta, após 40 anos de exemplar atividade.



Batalhão Escolar desfilando

 


Paiol

 

 

HOMENAGENS PÓSTUMAS

 

Em 1935, por iniciativa de um grupo de ex-alunos e autoridades públicas da cidade do Rio de Janeiro, foi erigida nos jardins do Colégio uma herma em sua memória, obra do escultor Benevenuto Berna. Pouco depois, considerada moumento da cidade, foi  solenemente transferida para o local onde se encontra, na Praça Afonso Pena, na Tijuca, a uma quadra da antiga sede do educandário.  Em 1955 foi comemorado o centenário do seu nascimento com cerimônia pública junto ao monumento, a que compareceram familiares, ex-alunos, admiradores e autoridades do ensino.

 

 


Inauguração do monumento na praça Afonso Pena


 

A festa do Centenário na Praça Afonso Pena

 

 

A ESCOLA MUNICIPAL ALFREDO DE PAULA FREITAS

 

Em abril de 1959 foi homenageado pela Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro como patrono da Escola Municipal Alfredo de Paula Freitas, localizada na rua Gustavo de Andrada, 290, no bairro de Irajá, a cuja cerimônia de inauguração estiveram presentes seu neto Luiz de Abreu Paula Freitas e bisnetos.  Posteriormente o prédio  passou a abrigar também a Escola Estadual de Ensino Supletivo de mesmo nome.

 

No final de 2009 a Escola comemorou o seu cinqüentenário com uma alegre festa, coroada pela inauguração de uma placa alusiva à data reproduzindo palavras de seu patrono.

 

 

 


   

 

       


 

     





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Feliz o educador que, ao voltar-se para o caminho percorrido, vê em plena florescência as árvores que plantou.    Não terá talvez ocasião, nem tempo, de se abrigar sob a copa frondosa.  Pouco importa.  Dá-lhe forças para seguir avante, e consola-o de tudo, a só lembrança de que, à sombra protetora das árvores gigantescas, se  acolherá a mocidade – satisfeita e agradecida.” 

Alfredo de Paula Freitas, 31/10/1917

 

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 ANTONIO DE PAULA FREITAS

Antonio de Paula Freitas nasceu no Rio de Janeiro em 10 de janeiro de 1843 e faleceu em 18 de março de 1906. Era doutor em Ciências Físicas e Matemáticas pela antiga Escola Politécnica, Engenheiro Geógrafo e Civil e professor catedrático por quarenta anos da mesma Escola onde se formara. Em 1904 estudou na Sorbonne (Paris) a técnica do concreto armado, que introduziu no Brasil e veio a ser utilizada pela primeira vez no país em obras públicas em 1907, quando da construção dos canais do Porto de Santos pelo engenheiro Saturnino de Britto. Foi figura de destaque em atividades profissionais e acadêmicas no reinado de D. Pedro II, sendo agraciado com os títulos de Oficial Menor da Casa Imperial e Cavalheiro da Ordem da Rosa. Recebeu também a prestigiada Medalha Hawshaw,  honraria de origem inglesa atribuída a quem se destacasse por trabalhos acadêmicos na área da Engenharia. Entre outras atividades no campo profissional, foi fundador e membro do Conselho Diretor do Clube de Engenharia, membro do Instituto dos Engenheiros Civis de Londres, membro da Sociedade Francesa de Higiene, membro da Diretoria do Congresso Científico Latino-Americano, fundador e membro da Administração do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.

  
                                         



Na segunda metade dos anos 1800 presidiu a "Empreza de Construções Civis" de Alexandre Wagner e seus genros Otto Simon e Theodoro Duvivier, pioneiros no desenvolvimento de  Copacabana e à qual pertencia praticamente metade da área então denominada Sacopenapan. Foi o responsável pelo projeto e obras de arruamento do bairro, em 1894, e homenageado posteriormente com seu nome dado à antiga rua Itororó.


Em 1903 foi eleito intendente municipal, função então correspondente à de vereador, e presidente do Conselho de Intendência Municipal, tendo renunciado pordivergências políticas com o então prefeito Pereira Passos. Logo após foi sufragado presidente do Conselho do Instituto Politécnico Brasileiro, criado em 1862 durante o regime imperial e que seria a primeira associação de engenheiros do país. 

São de sua autoria os projetos e a construção de vários prédios históricos na cidade do Rio de Janeiro, como o imóvel-sede da Imprensa Nacional Geral e o do Tesouro Nacional, já demolidos, e o do Correio Geral na rua Primeiro de Março. 

                             


                                                                                                                                                              Imprensa Nacional



                           

                                                                                                                                              Edificio Sede dos Correios 

 


Destaque ainda para o edifício projetado em 1880 para sediar a Faculdade de Medicina, cuja pedra fundamental foi lançada em 12 de fevereiro de 1881 pelo próprio Imperador D. Pedro II. As obras, porém, sofreram paralisações e somente foram concluídas em 1908, após seu falecimento, quando o prédio foi utilizado como pavilhão do Brasil na Exposição Internacional comemorativa do Centenário da Abertura dos Portos. No momento é ocupado por repartições do Ministério da Agricultura.

 


                           



                                                                            
Pavilhão da Agricultura  


Durante mais de vinte anos foi engenheiro da Igreja da Candelária, sendo responsável pelo projeto e construção das duas sacristias laterais, em 1877 e pelo desenho e colocação – em colaboração com Heitor de Cordoville – do novo revestimento interno em mármore italiano, além da instalação das belíssimas portas em bronze, em 1901. Em 1898 publicou o livro 
Memoria históica sobre a fundacão e construccão da igreja da Candelaria, cujas duas edições se esgotaram.

 

 

Igreja da Candelária Sacristias 

Candelária - revestimento interno
 
Candelária, portões 


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